sábado, maio 20, 2006

As voltas que damos para...

Confesso que ao terceiro dia de Barcelona, sentia uma certa frustração por não conseguir ver de perto tudo quanto tinha planeado, impedida por um mar de gente, que decerto tinha acordado antes de nós...confesso que o nosso quarto de pensão nas ramblas era demasiado sufocante para me oferecer 4 horas de sono descansado...para acordar fresca.Confesso que sentia a injustiça de, por ele conhecer e bem, todos os locais de peregrinação obrigatorios nesta cidade, me estar sempre a remeter para os livros que lá tinhamos em casa, tentativa veemente e sincera, de se poupar às filas interminaveis à volta dos locais de culto...confesso que começava a ficar triste, queria lá ir, sentir o cheiro de, conhecer as texturas de, fazer parte de...

...quem sabe alguem me tenha lido a tristeza no adiar do momento...e por isso...

me tenha enlaçado....


e confesso que não resisti ao convite...do sorriso...e da musica sempre presente nas ruas de Barcelona. Muito menos dele, que quem sabe, lê tristezas de planos adiados....

não queria eu fazer parte dela, cidade?


ri-me, levada pela imaginação e sonho do Park Guell...

afinal, tudo se manteria até à proxima visita...só este momento se perderia...

Não o perdi. Graças a ele, saí de Barcelona com um sorriso de quem quer voltar.

Graças a ele percebi que a vida tem oportunidades incriveis de sermos felizes e que tontos de nós, tantas vezes, lhes viramos as costas, o olhar, obcecados em obras maiores...

... a felicidade reside nas coisas simples...

...no equilibrio entre o que desejamos e o que fazemos, levados por um sorriso...

As voltas que nós damos, para sermos felizes!

O céu é o limite...!

Parabéns, Mestre!

Desculpa o formato desta sms diferente :) mas sabes como é...gosto de surpresas e como sempre, hei-de falar demais :) confesso, sinto-me acanhada dentro daquele quadradinho :)
e aqui as palavras saiem soltas...têem o céu como limite!

e assim começo...
que o céu seja o limite para as alegrias que te desejo...!
que o céu seja o limite para o amor em todos os seus quadrantes, das mil formas de que se veste e ocupa toda uma vida, desde a linha mais singela até à maior obra de arte!
que o céu seja o limite para todos os sonhos que ainda sonhas..!
que o céu seja o limite para a rota que traçaste e persegues...!
que o céu seja o limite para a vivencia da serenidade e verdade!
Que o céu seja o limite para alcançares a sabedoria dos magos e fazeres das lições passadas a aprendizagem para a felicidade do presente!

Entrega.Partilha.Confiança.Diálogo.


...e como tantas outras vezes, desejo que bons ventos te levem até ao céu que hoje, e, à falta de melhor, te ofereço, como limite! :)

quarta-feira, maio 17, 2006

A manta...



Quando o tempo me ganhar
e a paz na alma
pousar,
vou editar todos os livros
que não escrevi.
Com as lãs
e as cores
escreverei as palavras
que não soube pronunciar.
no momento certo.
mas senti

-como se sente o verão a chegar.
E nas linhas feitas de lã

alquimicas palavras
escritas por intuição
da pele,

frageis como lagrimas
serão
cristais.


Quando o tempo me ganhar
vou ficar um ano
sentada
no fogo que me afastará a morte
das pernas,
dos ossos,
e à lareira,
na distancia cálida -apaziguadora,
que essa serenidade me trará,
vou compreender por fim
porque fui assim.
compreender as entranhas
estranhas
de
uma manta de lã
tecida
nas cores das lãs
que o tempo
me ha-de ditar.

Deixarei o vermelho
da paixão
à solta na manta
e entenderei
o instinto
o impulso
que me fez segui-lo.

E tecerei as rolas que cantavam
nas manhâs de sabado
doce voar sobre o tempo do provir.
sinto já o calor da lã
nas minhas mãos
ao possuir o azul
infinito
do mar
que brincou
se agigantou
e que serenou
em mim...

De mel tingirei a lã
para os olhos das minhas filhas.
pois de mel elas se untarão
para me sentarem
aqui na minha manta
mantra
e me apaziguarem a sede.
verde.
das árvores e dos campos
que bebi
que deixei ocupar
nestes olhos
depois visionários
sabios.
A fome
da cor
dos homens.

Deles farei o fio
condutor
às estradas

cor de terra
da minha manta.
os que me encantaram

e não encontraram,
mas aqui bordo.
Ponto a ponto.

Quando apenas o fogo da lareira
me aquecer
vou deixar a branca

serenidade
escolher todas as cores.
Alinhavo.
Na manta
o amor será
de todas as cores.
Ocupará,

livre nas texturas
perfumes
e, embriagado de especiarias
sem sentido,
sentido será
de fogo e de neve
pau santo
ópium

ébano
marfim
cidreira
laranjeira em flor

pimenta açafrão
mas será sempre amor.

Os devaneios
queimar-se-ão
no fogo que agora
sinto nas mãos
das cores das lãs
pelos fios de lã
que passam rapido
esguios os fios

sem corpo
pelos meus dedos.
Guerras

pactos
afagos
anil.

Mil.

Nos nós dos dedos
roxos,
os nós das lãs
grossos,
os nós da vida
negros,
na palma da mão
resolvidos.
Ponto cruz.

Na cor do riso
em missangas,
amarelo talvez
às vezes ácido,
outras rosa

-tantas rosas
ponto pé de flor
na vã tentativa de quebrar
os muros
cor de tijolo
os silencios
pardos
os medos
cinzentos
do vazio
de cor.

Cruzada
ganha,
a manta,
pesa-me agora.
Não tenho mais cores
mais lãs.
Protejo-me na manta.
Estou sentada há uma vida
e gastei o arco íris.


Agora o fogo que a consuma.

terça-feira, maio 16, 2006

O homem que caiu ao mar




Quando o homem caiu e mergulhou, perdendo-se na profundidade das coordenadas, sentiu dentro dele a felicidade de não pertencer a lado nehum e em nenhum cais existir uma amarra que o prendesse à terra.

Quando o homem se perdeu dentro do mar que o engoliu, dançou com sereias enlaçado a si mesmo e fundiu-se no canto do adamastor que era a sua dor...trocou passado por presente e presente por futuro, soluçou no acorde de um beijo de areia, sem o halito fresco da corrente.

Quando o homem caiu ao mar não ouviu o grito dos outros, a água envolvente protegeu-o de outras vidas, dando-lhe a benção do esquecimento da sua. Não ouviu gritos nem acenos viu, festejou sozinho os bancos de coral que lhe feriram o corpo e celebrou de um trago as estrelas que ateavam o fogo em que ardia.

Encontrou meninos que se pareciam ligeiramente com a criança que ele já tinha sido e com esses meninos de mar, chorou todos os pesadelos que tinha escondido em buzios. Segredou tristezas tecidas em cordões umbilicais e mastigou irónico outros destinos.

Na ansia de uma valsa com os peixes, espalhou fragmentos de placton pelo seu corpo, tentando domar os cavalos marinhos que o galopavam.

Quando por fim, outros homens, o conseguiram trazer para terra e faze-lo respirar, o homem estremeceu de frio e vomitou na areia os demonios de sal que esculpira, a besta de pedra que o levara ao fundo.

Exausto de morte adormeceu, perdido para sempre da linguagem dos homens.