quarta-feira, junho 28, 2006

No man's land - Chipre




Foi o mar de Petra que me levou lá.




Mergulhar no Cabo Grego e renascer.

o sol, em vertigem.



A musica.

Alegria.

Outros rostos.



O rosto deles.

Dos que já foram colonos.



Em busca de Afrodite.



Danças tribais.
Decifrar misterios na pele gravados.



Ser a excepção à regra e procurar o outro lado.

Menos visivel.

Procurar o gosto da terra.

E encontrar oliveiras de paz no olhar de um homem.



Que sorri no desapego do tudo a perder.

Já perdido.

Que acorda aqui

e sabe




que nomes guardam

os fantasmas

que habitam FAMAGUSTA






Onde só as aves são livres.

de voar e pousar.





Uma questão geográfica.

Estrategia de principios.

Ou de fins que não olham a meios.

Virando as costas ao mar, subindo a montanha, outra cidade.

Dividida a meio por um muro.

Nicosia.



Porque de pedras

e arames farpados se fazem guerras de cobiça.


No muro este domingo a ausência das mulheres de negro.

Mães viuvas irmãs e filhas que choram os mortos em sangue

pela liberdade de uma ilha.


Passar a fronteira e morrer

de espanto.

Follow me no mapa a traço azul.

Apenas seguir os passos aconselhados.

Permitidos?





E mesmo assim encontrar.


Saber que foi um berço


-no passado.







a menina que nos sorri



.


a esperança que espreita.

a fé. nos Homens.

Que consigam (re)construir o que um dia destruiram.


A arte que já salta para as ruas.

O presente ainda pintado de fresco.

O regresso.

A unificação

Quando??


No chão a seiva tenta romper.




Dizem-nos: sou um pobre homem enquanto do outro lado, todos são ricos. Discotecas para 3000 pessoas. No meu restaurante pobre cabem 30 pessoas.

Pergunto-lhe: Porque não regressas ao teu país?

- Não tenho país.

Cheguei ilegal.

Pagavam-me para ocupar.

Sou um mercenario,

entendes?

Como eu, outros milhares,

todos presos deste lado.

Sem saída possivel.

Sem documentos.

Sem futuro.

Saímos traçando o azul do chão

sabendo que o do céu estava fora de contexto.

A norte descobrimos ovos de tartaruga protegidos pela areia.

Aguardando a hora do nascimento.

Como todos os cipriotas aguardam a queda dos muros.

Aguardam a liberdade.

Dedicado ao homem de Famagusta.

Dedicado ao velho pescador de luto vestido há mais de 30 anos, que nos convidou para o mar e nos serviu num banquete de peixe, tudo quanto possuía de melhor no seu restaurante.

Dedicado ao outro que numa Taverna de Larnaka, me ensinou a dancar e connosco partilhou a sua mesa e coração.

Dedicado ao Mário que me oferecia diáriamente cigarros e aliciou a provar o café turco.

Dedicado ao homem que dá a voz aos relatos televisivos de futebol, que gostou de viver em Portugal durante o euro 2004 e entre risos, já embriagados de madrugada, nos ensinou que pyla é vila e vila é pyla, em grego.

Dedicado a Savas (cipriota turco), Katrina e Thomas (cipriotas gregos) amigos sem muros entre eles, que connosco partilharam passados, presentes e anseios futuros.

Dedicado a todos os Homens de boa vontade que dia a dia lutam pela reconstrução e unificação de Chipre, a ilha azul , numa mensagem explicita de Paz.

Kalimera, sempre!

terça-feira, junho 27, 2006

O Piano ilumina-se em Sol

Porque hoje a noite amanheceu para ti.



Verticalmente luminosa.

Traça de transparências irrevogáveis.

Solidamente construida na alegria debruçada

no parapeito da alma.


Bom dia, Isabel.

Parabéns!