quinta-feira, julho 24, 2008


Toda a lagarta tem seu dia de borboleta.
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É só esperar pela Primavera.
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Ruth Rocha in "A Primavera da Lagarta"

quarta-feira, julho 23, 2008



Marinar: tecnica de tempero com o intuito de aromatizar, amaciar e conservar a comida
ou
a técnica apuradissima de passar a tarde numa qualquer marina? :)

Viagem Alien em Blue(s) pela História



Para quem gosta de perceber o porquê e de chegar à origem...

Para quem gosta de ouvir Blues... os cânticos nostálgicos em

busca da liberdade...


(BASTA CLICAR NO TITULO deste post)


Não há shots.

Pode-se fumar. (Pode?)

Não se garante nada mais.


segunda-feira, julho 21, 2008

Londres


Não sei se é saudade ou vontade de a trincar.

mais.

saborea-la agora que lhe reconheço as ruas.

perder-me de novo nelas e navegar o rio.

com tempo.

de lhe saber os cais e as pontes, como se fossem mãos que se estendem.

traguei-a.cidade.

com medo de me esquecer do que me tinha tocado.

e ficaria lá mais 100 dias, porque ainda sou tao pequenina e tanto tenho para descobrir.

em mim e em cidades fora de mim.

domingo, julho 20, 2008

E sobre as origens do Jazz...os Blues...

Encontrei dois blogs que me tiraram todas as dúvidas...



http://www.river-man.blogspot.com/

e

http://www.ruiazulindex.blogspot.com/





E o Rui Azul, que não conheço, diz-nos assim....

Como nasceram os Blues? Como se chegou à escala de Blues?
Recuemos a 1640.
Nós, Portugueses, estávamos sob o jugo dos Espanhóis, de modo que nesse episódio de terrorismo institucional estamos, por ora, ilibados...

Saxónicos, Holandeses e até Franceses precisavam de mão-de-obra barata, da mais barata, tipo escravatura, para as grandes plantações de algodão, na zona do delta do Mississipi, a sul, e mais tarde para instalar o caminho de ferro que ligaria uma costa à outra.

A ralé que enchia as prisões do velho continente, mais toda uma população de pedintes famintos e analfabetos fora já despachada para o “novo mundo”, mas não chegava para o esforço que era requerido para construir um estado do tamanho de um continente, e, convenhamos, eram de raça branca, e seria um pouco escandaloso fazer deles escravos...

Assim, durante décadas, milhares e milhares de negros, tribos e etnias completas, por vezes, que habitavam a faixa litoral entre o que hoje se chama de Congo até à Costa do Marfim, foram literalmente raptados, acorrentados e açaimados, num processo comparável ao que seria, actualmente, o rapto de vilas e cidades feito por extraterrestres em ovnis, pois no séc. 17, os desgraçados nunca tinham visto o homem branco, muito menos naus, nas quais foram empilhados e agrilhoados nos porões.

Após meses para atravessar o Atlântico - norte, naquelas condições infra-humanas, os 60% que sobreviviam àquela travessia infernal eram leiloados e vendidos como se de gado se tratasse, e aguardava-os uma vida de trabalhos forçados a servirem como escravos o seu novo “dono”.


Tiveram também que aprender em 1º lugar o holandês e o francês línguas faladas no sul, Virgínia, Louisiana e outros estados onde estavam os proprietários e fazendeiros, e mais tarde o inglês, por toda a parte.

Foram proibidos de prestar culto aos seus deuses africanos e compulsivamente cristianizados.

E é precisamente na igreja, através dos cânticos religiosos que irá germinar o embrião dos BLUES.

A música dos brancos e europeus assentava sobre os modos gregorianos (assim chamados porque regulamentados pelo papa Gregório ?), ou seja, a escala diatónica, como hoje a conhecemos, formada por 7 tons ou notas, correspondentes às teclas brancas no teclado do piano: DO, RE, MI, FA, SOL, LA, SI, (ou se quizerem, em inglês: C D E F G A B).

As escalas africanas baseavam-se apenas em 5 dessas notas: DO, RE, FA, SOL, LA (escala pentatónica).

Como é natural, ao cantarem, estranhando o 3º e o 7º graus, MI e SI, era frequente hesitarem entre a 3ª maior e menor, entre o MI e MIb, e entre a 7ªmaior e menor, SI e SIb, originando, com esta inconstância e insegurança sobre qual nota emitir, uma hipótese de variação naquelas notas, apelidadas de BLUE NOTES, porque ao passar-se na tonalidade maior para uma toada menor, o cariz, ou carácter, temperamento, espírito, o que lhe queiram chamar, fica mais melancólico, mais triste, na língua inglesa... mais...BLUE.


Esta nova variação resultante da aculturação foi invadindo primeiro timida e depois assumidamente, pois agradava a parte da população branca, que notara as claras aptidões para o canto, o ritmo e a dança por parte dos negros, e que constituía a única coisa que lhes fora permitido trazer: a sua herança cultural africana!

Mas para além dos cânticos religiosos, apelidados de ESPIRITUAIS ou GOSPEL (god+spell = a palavra do Senhor), que aconteciam ao Domingo, os dias de trabalho foram também contemplados por cânticos de trabaho ou WORKSONGS.

Utilizando a marcação sempre presente que constituía por exemplo, o martelono caso dos carris, ou a picareta e a pá nos trabalhos agrícolas, o tempo que separa uma martelada da outra era preenchido por uma voz de incitamento ou de marcação (à semelhança do que se passa nos cânticos alentejanos, na voz de um timoneiro no remo, ou do sargento no exército) à qual todos respondem em uníssono, numa espécie de refrão. Ou seja: tempo forte(upbeat)=martelo / downbeat=voz marcação / tempo forte=martelada / downbeat=vozes refrão.Esta fórmula foi tendo variações e alterações conforme o tipo de tempo (velocidade da acção) que o trabalho originava.

A WORKSONG, juntamente com o GOSPEL, está na raiz directa das primeiras formas de BLUES, que surgiram durante o tempo livre e de lazer, mas infelizmente para os escravos não transmitiam, como se poderia esperar, o grito de revolta ou a palavra que poderia incitar à luta pela liberdade. E isto porque os esclavagistas brancos proibiram a utilização de outra língua nas canções que não fosse o inglês, assim como quaisquer tambores ou percussões, pois poderiam relembrar África e servirem como incitação à rebelião, pois a música africana executada em tambores tem sequências e motivos rítmicos que significam ideias, são traduzíveis em expressão oral, simbolizam mensagens.

Ora tudo isso eram riscos que os brancos ricos do sul não estavam dispostos a correr. E deixavam bem clara a punição que sofreria aquele que ousasse desafiá-los, através dos linchamentos e execuções públicas levadas a cabo sob a capa sanguinária e ensanguentada do Ku Klux Klan.

Deste modo, os primeiros BLUES estavam limitados a expressarem pequenas estórias românticas, crónicas vivênciais, lamentações do coração. Os Blues eram cantados nas ruas, e mais tarde nos cabarets. Inicialmente, eram pedintes cegos que pendiam para o romance e a ladainha. É construído sobre 12 compassos (embora haja excepções) Muitas vezes o cantor começa por um break, isto é, uma fantasia de poucas notas, uma frase perfeitamente esculpida, baseando-se nos 4 primeiros compassos, revelando a melodia principal somente a partir do 5º compasso. Um ponto culminante, a nível emocional, é a passagem que se efectua do 4º ao 5º compasso (subida à 4ª) e do 8º ao 10º compasso (subida à 5ª, desce à 4ª, volta à tónica). Estes pontos-chave eram aguardados impaciente e ansiosamente pelo público negro e frequentemente originavam gritos de satisfação.


O primitivo blues foi evoluindo com a entrada no séc XX, influenciou o RAGTIME, introduzindo BLUE NOTES em marchas, polcas e quadrilhas de origem europeia.

As orquestras de dança começaram a utilizar os Blues nos reportórios, e as primeiras Jazz-Bands tocavam-nos em cabarets, saloons, bares, barrelhouses e bordéis. Aconteciam concursos e orquestras defrontavam-se para alcançarem a preferência do público que aclamava no final o vencedor. Dadas as suas características punjentes, certos Blues acompanhavam funerais e velórios.Os Blues começaram a experimentar diferentes cadências, diferentes tempos, ritmos, tonalidades, arranjos, instrumentações.

Tanto prosseguiam o seu percurso junto com a guitarra desde os DELTA BLUES, utilizando o polegar e o bottleneck (gargalo de garrafa) sobre as cordas, ramificando-se para o TEXAS BLUES de T-Bone Walker, Lightning Hopkins e BBKing, para o COUNTRY BLUES, evidenciando forte influência irlandesa e transformando-se na música dos cow-boys, como também soavam em ritmo sincopado, executado nos primeiros anos por banjos e tubas, nas orquestras de King Oliver, Bix Beiderbeck e na Louis Armstrong HOT FIVE em New Orleans, gerando DIXIELAND. Instrumentos esses que deram lugar à guitarra e ao contrabaixo, aos quais se veio juntar a recém inventada bateria de jazz...




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Nota: Quando em 2002 estive no Senegal, conheci a ilha de Gorée e visitei a casa dos escravos.


Senti o pulsar daquelas paredes e durante momentos permaneci na "Porta do Nunca" por onde os escravos saíam para nunca mais entrar.




... nem sempre as origens são as melhores.




Celebremo-los através da nostalgia da sua música...