sábado, julho 19, 2008


Foto: Hot Club, Lisboa, Maio 2008


O Jazz nasceu à beira de um abismo.
O corpo em situação extrema a descobrir a alma.
Não a alma pendurada numa parede do museu teológico,
mas a psique aprisionada nas masmorras da santa sé da moral
que se liberta no grito que o homem lança no limiar do abismo.
O grito é o orgasmo: o Jazz.
É neste sentido que se pode falar de um erotismo do Jazz: a escalada de psique para eros. Escalada, apenas.
Nunca o ponto de repouso da chegada.
Por isso o Jazz é tensão, estirada, dor agudíssima,
os ingredientes que elaboram o orgasmo em suspensão.
Por isso o Jazz não é terminal, recusa-se a um fim, continua mesmo quando acaba.
É fome de amor que se alimenta da insatisfação.
Por isso no Jazz se abre o leque dos sons com que a lost generation ventilou o seu rosto afogueado pelo último Verão do mundo.
Poesia sem letras, magia sem esperança, assembleia de bacantes na festa do descobridor da vinha, limando as unhas para arrancar olhos aos usurpadores do sonho.
Porque no Jazz o que importa, acima de tudo, é não acordar!
Natália Correia
in JazzPortugal .ua.pt
Newsletter 28

terça-feira, julho 15, 2008

O Segredo de um Cuscuz

Para além de me ter deliciado a ver este filme, ( La Graine et le Mulet ) que quanto a mim, mais parece vivido que representado (e nenhum dos actores é profissional), fiquei com vontade de cozinhar um cuscuz...



Para os aventureiros, aqui fica a receita:


Receita marroquina de cuscuz de carne


Ingredientes:
1kg de carne de vitela ;
500 gr de cuscuz ;
200 gr de grão de bico (de molho durante 12 horas);
1 cebola;
1 beringela;
4 cenouras;
4 batatas grandes;
5 tomates pelados;
100 gr de abóbora;
3 courgettes pequenas;
2 dentes de alho;
1 molho de coentros;
1 molho de salsa;
1/2 colher de sopa de pimenta;
1 colher de sopa de gengibre;
1 pitada de açafrão;
1 rama de canela (ou em pó);
azeite e sal.

Preparação:

Comece por saltear a cebola e os alhos (bem picadinhos) numa panela com um pouco de azeite: Junte os coentros e a salsa picados, a canela, o gengibre, a pimenta e o açafrão.
Deixe ficar por cerca de 5 minutos, antes de incorporar a carne, cortada em pedaços.
Encher com água 2/3 da panela.
Acrescente o grão de bico, e deixar cozer em lume brando durante 2 horas.
Incorporar a beringela, a abobora e as batatas, as cenouras e as courgettes (cortadas em rodelas).
Deixe cozer durante mais 20 minutos.
Lavar o cuscuz, escorre-lo e condimentá-lo com um fio de azeite e sal.
Mantê-lo no coador sobre a boca da panela durante 15 minutos.
Retirar, estendê-lo sobre um recipiente amplo, acrescentar um chávena de água e outro fio de azeite.
Voltar a coá-lo no coador e deixar cozer durante mais 15 minuto ao vapor.
Repetir esta operação 3 vezes.
Dividir o cuscuz por pratos individuais.
Cobrir com a carne, o grão de bico e os legumes e colocar o caldo numa terrina no centro da mesa.


Nota- No filme, os pimentos eram muito apreciados, por isso, vou-me atrever a acrescentá~los aos legumes da receita! ;)

.... e sei que o segredo de um cuscuz é o amor.

Não só porque foi o que a cozinheira tunisina -de olhar lascivo e faiscante- me segredou, ao passar-me a terrina de cuscuz para ir servir os homens da minha mesa, como pela mensagem do filme, como por todos os anos de cozinhados que trago em mim.

O segredo de qualquer bom cozinhado é sempre o amor (dedicação, atenção, tempo, imaginação e criatividade no uso de condimentos -e a arte de não abusar de nenhum deles) que imprimimos aos nossos gestos...

Por isso, quando cheguei do cinema fui em busca da receita...

Percebe-se através dela, que o cuscuz -como qualquer relação- precisa de tempo para estar no ponto...necessita de espaço para se soltar...carece de temperos para amadurecer...

Longe de fogos impetuosos que o danificariam pela certa, o cuscuz revela-se, pelo contrário, exuberantemente apetitoso, depois de muito tempo ao vapor...

E não sei o que lamente mais...se o tempo que actualmente falta para cozinhar, se a falta de amor que tantas vezes deixamos transparecer nos nossos gestos...

domingo, julho 13, 2008


Marrocos 2003
Yesterday
I had plenty of time
to embroider space with words.
But today
I am left with nothing...
Touria Majdouline, pequeno excerto do seu poema "out of context"