Quando o homem caiu e mergulhou, perdendo-se na profundidade das coordenadas, sentiu dentro dele a felicidade de não pertencer a lado nehum e em nenhum cais existir uma amarra que o prendesse à terra.
Quando o homem se perdeu dentro do mar que o engoliu, dançou com sereias enlaçado a si mesmo e fundiu-se no canto do adamastor que era a sua dor...trocou passado por presente e presente por futuro, soluçou no acorde de um beijo de areia, sem o halito fresco da corrente.
Quando o homem caiu ao mar não ouviu o grito dos outros, a água envolvente protegeu-o de outras vidas, dando-lhe a benção do esquecimento da sua. Não ouviu gritos nem acenos viu, festejou sozinho os bancos de coral que lhe feriram o corpo e celebrou de um trago as estrelas que ateavam o fogo em que ardia.
Encontrou meninos que se pareciam ligeiramente com a criança que ele já tinha sido e com esses meninos de mar, chorou todos os pesadelos que tinha escondido em buzios. Segredou tristezas tecidas em cordões umbilicais e mastigou irónico outros destinos.
Na ansia de uma valsa com os peixes, espalhou fragmentos de placton pelo seu corpo, tentando domar os cavalos marinhos que o galopavam.
Quando por fim, outros homens, o conseguiram trazer para terra e faze-lo respirar, o homem estremeceu de frio e vomitou na areia os demonios de sal que esculpira, a besta de pedra que o levara ao fundo.
Exausto de morte adormeceu, perdido para sempre da linguagem dos homens.