sábado, maio 03, 2008






Doeste-me no estômago


como quem engole o ontem.


Côdea de memória roída.




as migalhas secas na toalha de linho



lembram-me os cristais que nunca vestirás.



opaco te lembro.




Talvez sejas o soco que não sei defender



desferir.



mas aprendi a impugnar.




talvez a moinha que teima em roer.



foste a parede muda de cal



o peixe que nunca me ouviu



o instante que se perdeu.




Doeste-me na vertigem rápida da aparição

eras tu ou era eu que te via?



na imagem que no tempo se repete.



fugidia.


quantas vezes terei de soletrar


e s p e r a


para ti comprei sete canetas


e ainda me sobram três.

quarta-feira, abril 30, 2008

A arte de humilhar








Há um fenómeno social que me tem vindo a preocupar nos últimos anos.
Mesmo quando não sabia que existia um nome para o definir.
(quem dizia que a ignorância é a mãe de todo o mal, não estava errado)




Já foi noticia no telejornal, chama-se bullying e sobre o mesmo pode ler-se na wikipédia:




Bullying é um termo de origem inglesa utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo (bully) ou grupo de indivíduos com o objetivo de intimidar ou agredir outro indivíduo (ou grupo de indivíduos) incapaz/es de se defender. A palavra "Bully" significa "valentão", o autor das agressões. A vítima, ou alvo, é a que sofre os efeitos delas. Também existem as vítimas/agressoras, ou autores/alvos, que em determinados momentos cometem agressões, porém também são vítimas de bullying pela turma.




Características dos bullies
Pesquisas
[3] indicam que adultos agressores têm personalidades autoritárias, combinadas com uma forte necessidade de controlar ou dominar. Também tem sido sugerido[4] que um déficit em habilidades sociais e um ponto de vista preconceituoso sobre subordinados podem ser factores de risco em particular.
Estudos adicionais
[5] têm mostrado que enquanto inveja e ressentimento podem ser motivos para a prática do bullying, ao contrário da crença popular, há pouca evidência que sugira que os bullies sofram de qualquer déficit de auto-estima.[6]
Outros pesquisadores também identificaram a rapidez em se enraivecer e usar a força, em acréscimo a comportamentos agressivos, o acto de encarar as ações de outros como hostis, a preocupação com a auto-imagem e o empenho em ações obsessivas ou rígidas.
[7]
É freqüentemente sugerido que os comportamentos agressivos têm sua origem na infância:
"Se o comportamento agressivo não é desafiado na infância, há o risco de que ele se torne habitual. Realmente, há evidência documental que indica que a prática do bullying durante a infância põe a criança em risco de comportamento criminoso e violência doméstica na idade adulta."
[8]
O bullying não envolve necessariamente criminalidade ou violência. Por exemplo, o bullying frequentemente funciona através de abuso psicológico ou verbal.

Tipos de bullying
Os bullies usam principalmente uma combinação de intimidação e humilhação para atormentar os outros. Abaixo, alguns exemplos das técnicas de bullying:
Insultar a vítima; acusar sistematicamente a vítima de não servir para nada.
Ataques físicos repetidos contra uma pessoa, seja contra o corpo dela ou propriedade.
Interferir com a propriedade pessoal de uma pessoa, livros ou material escolar, roupas, etc, danificando-os
Espalhar rumores negativos sobre a vítima.
Depreciar a vítima sem qualquer motivo.
Fazer com que a vítima faça o que ela não quer, ameaçando a vítima para seguir as ordens.
Colocar a vítima em situação problemática com alguém (geralmente, uma autoridade), ou conseguir uma ação disciplinar contra a vítima, por algo que ela não cometeu ou que foi exagerado pelo bully.
Fazer comentários depreciativos sobre a família de uma pessoa (particularmente a mãe), sobre o local de moradia de alguém, aparência pessoal,
orientação sexual, religião, etnia, nível de renda, nacionalidade ou qualquer outra inferioridade depreendida da qual o bully tenha tomado ciência.
Isolamento social da vítima.
Usar as
tecnologias de informação para praticar o cyberbullying (criar páginas falsas sobre a vítima em sites de relacionamento, de publicação de fotos etc).
Chantagem.
Expressões ameaçadoras.
Grafitagem depreciativa.
Usar de sarcasmo evidente para se passar por amigo (para alguém de fora) enquanto assegura o controle e a posição em relação à vítima (isto ocorre com freqüência logo após o bully avaliar que a pessoa é uma "vítima perfeita").






Preocupa-me na medida em que não é apenas um fenómeno pontual (característico de adolescentes) mas trata-se de desvios de personalidade que em muito vão afectar a vida adulta do bully e de todos os outros que se vão relacionar com ele, através do tempo.



Todo o abuso de poder manifesta elevada falta de respeito pelos outros.



A leitura deste artigo e de todos os outros com ele relacionados na Wikipédia, levam-me a lembrar um livro "A Traição do Eu", escrito por Arno Gruen, que nos diz que existem duas espécies de pessoas.





As que buscam o poder e as que buscam o amor.






Sobre este livro e na minha busca, encontrei ainda no blog "Psisalpicos.blogspot.com" o seguinte post datado de Junho 2007:




Tal como refere Martin Roda-Becher a propósito do livro “A traição do Eu” de Arno Gruen publicado pela Assírio & Alvim em 1996, a aspiração à autonomia se for entendida como demonstração da própria força e superioridade limita-se a ser um produto da sociedade do sucesso em que hoje vivemos e consequentemente não passa dum equívoco de condições nefastas. Como o psicanalista Arno Gruen demonstra ao longo do livro, a verdadeira autonomia é o estado em que o Homem se encontra em plena harmonia com os seus sentimentos e necessidades. Contudo é justamente a prevalecente ideologia do sucesso e da eficiência que impede a muitos indivíduos o acesso ao próprio Eu; sendo que a adaptação às normas sociais, induzida pela pressão educacional atrofia a vitalidade, a criatividade e a capacidade de amar. Tamanha perda gera dependência e submissão. Arno Gruen analisa as fases do desenvolvimento da personalidade humana e as situações vivenciais em que a autonomia é bloqueada. Demonstrando desta forma, entre outras coisas, como a opressão da Mulher ou o empobrecimento mental do Homem, sendo consequências da falta de autonomia, são expressões da mesma perturbação fundamental. Para além das formas patológicas, Arno Gruen debruça-se pormenorizadamente sobre a anormalidade do que é tido como normal, interrogando-se sobre a condição do Homem na sociedade contemporânea."






E tudo isto para quê?






No fundo no fundo, para vos desejar uma vida de intensa e verdadeira liberdade!






Para que nada seja em vão!






Beijos abraços e votos de um grande 1º Maio.

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domingo, abril 27, 2008

coração militante







quem mais, que o coração, designa a busca incessante?

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quem mais, que o coração, leva a fundir pó e água, para perceber de que matéria é feita a lama?

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quem ensina o gesto, quem guia o vento, quem segura o corpo?

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quem me fez trovoada

e de trovão me vestiu

quem me fez ventania

e de vento me ungiu?

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quem de areia me cobriu?

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quem de manso me chamou lirio,

quem de flores me banhou?

quem de água me adornou,

quem de gotas me sonhou?

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quem da onda me soltou?

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quem de grito me emudeceu?

quem do livro fez caminho?

quem perdi quem me perdeu,

quem de mim sobreviveu?

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quem de mim nunca morreu?

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