terça-feira, junho 06, 2006
a noite cresce na lua
Deixa-me abraçar-te, meu amor...e no gesto afastar o frio do mundo, fazê-lo ausente de nós.
Afagar-te com os olhos e prender na minha pupila a tua pele, dilatar ao maximo o sentimento, beliscar-te com o olfacto e saborear-te lentamente num crescendo.
Bolero de Ravel.
Assim abraçar-te de corpo cheio, apagar lentamente o cansaço dos dias.
dos jogos de xadrez. da ambição.
das casas onde viveste, das areias que te conheceram.
Lambo-te a pele menina, fresca de anseios, porque te anseio puro.
Só meu deste espaço nosso, como se nunca tivesses vivido fora desta cama.
Como se nunca tivesses amado...como se hoje fosse a nossa primeira vez de todos os tempos.
de todos os corpos, esquecidos.
de todas as guerras, vencidos.
Não, não te vires ainda. Deixa que o meu abraço te adormeça outras vidas, traga o nevoeiro do esquecimento e nas nossas mãos apertadas se defina a intensidade da amarra.
Deixa que primeiro te navegue por dentro, te sinta na ilha que guardo no ventre amadurecido,
no cume do meu coração.
A noite cresce na lua do teu ombro...sorrio no luar da agora, tua boca, que me beija
...e sinto na lua a passagem para o meu lado de fêmea que te querendo, respira vida.
Rio, provocante do quanto renasço, do quanto sinto
reconhecer-te. Na pele no cheiro no beijo reconheço-te.
Entrego-me.
Na ilha o orvalho nasce puro.
E o tronco que me desenhas na pele, na posse das linhas do meu pescoço,
é o arco íris que nos une...reflectido na água deste lago que nos inunda.
agora as tuas raízes saciam-me.
Cá dentro a noite cresce na lua e nós somos dois planetas encontrados pelo tempo dos sentidos.
Encontro-me no teu abraço, meu amor.