terça-feira, janeiro 24, 2006


...OVER & OUT ou a arte de descobrir o depois...

No verão de 2003 fui a Marrokos com um grupo de amigos, uma viagem de lazer transformada em Big Brother ...com chá de menta. Para além de me terem feito sentir expulsa logo no 5º dia, também me deram a oportunidade única de atravessar o deserto sem realmente alguma vez lá termos chegado...o que demonstra bem o surrealismo daqueles dias!! Mas o mais importante veio depois...descarregada a bagageira, encontrei um livro.
Digamos que ao olhar o "Livro" deu me um clic e o trouxe comigo...sabendo antecipadamente a quem poderia pertencer (obrigada Julia!!). Ao fim de uma semana entreguei-o, depois de o ter lido todo de fio a pavio, tomado anotacoes e ter treinado exaustivamente pela noite a dentro, a enumerar todos os objectivos de vida que (afinal!!) tinha...rebobinando hoje este filme, lembro me de estar na praia com a minha neta e de ter sentido uma imensa paz de espirito...pegar nela ao colo e sentir o carinho a aquecer me as veias...mergulhar os meus ohos nos seus e sentir que aquele era um momento único para o resto da minha vida!!!

E foi. Regressada a Lisboa das alegrias maternais, comecei a pôr em prática os ensinamentos. As pessoas que tinha a meu lado quereriam ser incluídas nos meus projectos de vida? Isto é...eu ja tinha um caminho traçado (a lápis não fosse estar errada) mas será que iriam querer viajar comigo? Depressa intuí que ia ter que usar a borracha para apagar alguns troços...e foi uma grande revolução. Aproveitei a boleia do choque emocional (porque o foi) e de uma só rajada pus a casa, onde vivia ha 20 anos, à venda...tirei a internet e o telefone fixo, comprei "Mulheres Que Amam Demais" e fui fazer o curso de marinheiro, porque quis, porque queria manter a cabeça ocupada, porque a folhas tantas senti que isso era das poucas coisas que me davam verdadeiro prazer...e já ha muitos anos e independentemente da companhia!!!!

Talvez olhando para mim julgassem que eu era uma vencedora...afinal ali estava eu sempre de sorriso e gargalhada prontos, aplicada e com bagagem verbal, pronta para enfrentar as mudanças de vento. Afinal vencia de novo a solidão (não porque vivesse sózinha, mas a outra, a outra solidão, mais sentida e mais entranhada) noite-a-dentro lendo e absorvendo, fascinada de novo. Desta feita, não pelos mistérios dos que teclavam nos chats, mas pelos meus próprios mistérios...bóias de sinalização...faróis e mudanças de rota.

Mas nao era uma vencedora de forma alguma...embati logo no primeiro cargueiro estacionado no Tejo e sobre esse embate só passado algum tempo soube a razao...fi-lo sem consciência, não por falta dela no verdadeiro sentido da palavra, mas porque ainda não conhecia bem a mulher que existia em mim. Porra, eu era muito mais profunda do que eu própria desejava ser!!!!! :-O (espanto)

Desse embate consegui tirar diversas, novas e sábias conclusões: Nada de precipitações...tinha que começar a travar os meus impulsos...antes de saber a natureza das minhas empatias!!!

E principalmente não sem antes, conhecer bem as pessoas que se iam (inevitavelmente) cruzar comigo...

...porque depois dos 40, trazemos mundos connosco...carregamos habitos, dores e traumas...carregamos fantasmas e almas gémeas criados por nós e a quem damos vida...sem nos apercebermos...não temos só uma série de musicas e um monte de livros...temos tanta coisa às nossas costas!!!!