Fora promessa. Uma raiva contida, uma dor qualquer.
Uma fúria. Um vento.
Calaria as palavras.
Não se deixaria possuir através delas.
Não se deixaria adivinhar depois delas.
Diferente de esconder, guardava.
Foi assim que um dia se viu: guardadora de palavras.
Havia noites em que sentia a dormência das pernas
das palavras que dormentes
esperavam voz.
Havia manhãs que os braços
acordavam antes dela
no desassossego
das palavras que possuiam.
E sempre o silêncio.
Também não faria qualquer diferença dizê-las:
amanheceria religiosamente
ao amanhecer
e, a noite, cairia sempre, indiferente,
ao anoitecer.
Não faria diferença soletrá-las.
Não faria diferença gritá-las,
ou sussurá-las:
todos os continentes continuariam
retidos nas suas geométricas latitudes
e todos os oceanos continuariam densamente salgados.
Que mais poderia importar na lei apaziguada das coisas?
Talvez em si, fizesse diferença, guardá-las.
Ser possuída por elas.
E quando em si já mais não cabiam, deixou que o corpo transmitisse o código secreto das palavras guardadas.
Soltou o corpo na sua tradução.
Houve quem, muitas palavras depois, desse tempo de silêncio, a acusasse de só querer dançar.
Será que estas
palavras traduzem
o aplauso ao link submerso no título ? :)