Foi o mar de Petra que me levou lá.
Mergulhar no Cabo Grego e renascer.
o sol, em vertigem.
A musica.
Alegria.
Outros rostos.
O rosto deles.
Em busca de Afrodite.
Danças tribais.
Decifrar misterios na pele gravados.
Ser a excepção à regra e procurar o outro lado.
Menos visivel.
Procurar o gosto da terra.
E encontrar oliveiras de paz no olhar de um homem.
Que sorri no desapego do tudo a perder.
Já perdido.
Que acorda aqui
e sabe
que nomes guardam
os fantasmas
que habitam FAMAGUSTA
Onde só as aves são livres.
de voar e pousar.
Uma questão geográfica.
Estrategia de principios.
Ou de fins que não olham a meios.
Virando as costas ao mar, subindo a montanha, outra cidade.
Dividida a meio por um muro.
Nicosia.
Porque de pedras
e arames farpados se fazem guerras de cobiça.
No muro este domingo a ausência das mulheres de negro.
Mães viuvas irmãs e filhas que choram os mortos em sangue
pela liberdade de uma ilha.
Passar a fronteira e morrer
de espanto.
Follow me no mapa a traço azul.
Apenas seguir os passos aconselhados.
E mesmo assim encontrar.
Saber que foi um berço
-no passado.
a menina que nos sorri
.
a esperança que espreita.
a fé. nos Homens.
Que consigam (re)construir o que um dia destruiram.
A arte que já salta para as ruas.
O presente ainda pintado de fresco.
O regresso.
A unificação
Quando??
No chão a seiva tenta romper.
Dizem-nos: sou um pobre homem enquanto do outro lado, todos são ricos. Discotecas para 3000 pessoas. No meu restaurante pobre cabem 30 pessoas.
Pergunto-lhe: Porque não regressas ao teu país?
- Não tenho país.
Pagavam-me para ocupar.
Sou um mercenario,
entendes?
Como eu, outros milhares,
todos presos deste lado.
Sem saída possivel.
Sem documentos.
Saímos traçando o azul do chãosabendo que o do céu estava fora de contexto.
A norte descobrimos ovos de tartaruga protegidos pela areia.
Aguardando a hora do nascimento.
Como todos os cipriotas aguardam a queda dos muros.
Aguardam a liberdade.
Dedicado ao homem de Famagusta.
Dedicado ao velho pescador de luto vestido há mais de 30 anos, que nos convidou para o mar e nos serviu num banquete de peixe, tudo quanto possuía de melhor no seu restaurante.
Dedicado ao outro que numa Taverna de Larnaka, me ensinou a dancar e connosco partilhou a sua mesa e coração.
Dedicado ao Mário que me oferecia diáriamente cigarros e aliciou a provar o café turco.
Dedicado ao homem que dá a voz aos relatos televisivos de futebol, que gostou de viver em Portugal durante o euro 2004 e entre risos, já embriagados de madrugada, nos ensinou que pyla é vila e vila é pyla, em grego.
Dedicado a Savas (cipriota turco), Katrina e Thomas (cipriotas gregos) amigos sem muros entre eles, que connosco partilharam passados, presentes e anseios futuros.
Dedicado a todos os Homens de boa vontade que dia a dia lutam pela reconstrução e unificação de Chipre, a ilha azul , numa mensagem explicita de Paz.
Kalimera, sempre!