Passeiam-se portas entre livros.
Passeiam-se portas à beira rio.
Sentam-se em esplanadas e acordam
ainda fechadas
no primeiro arrepio de noite.
Passeiam-se portas.
Nos corredores dos centros de saude
levam no trinco o ansiolitico, pendurado
num saco, entre yogurte e bolachas.
Passeiam-se em mercados,
e comercios tradicionais
de portas abertas às portas fechadas.
Passeiam-se portas, em calçadas e ruelas.
Quem me abre?
e continuam a andar.
Levam misterios de desencontros
dos tempos das portas abertas,
Levam lágrimas pintadas
trazem o silencio
em espera.
Quem me abre?Passeiam-se à noite discretas nos cinemas. Portas às tantas fechadas à espera de quem as abra. Quando deixei eu de me abrir, quando deixei a teia se formar, a aranha expandir-se no seu circulo fechado? Passeiam-se portas. Às vezes ouve-se o vento pelas frestas das portas. Outras o ranger do desespero. Passeiam-se. Na sombra do presente, arrastam saudades.
Dos dias em que abertas de par em par deixavam entrar o sol.
Dos dias que eram passagem.
E sentem ainda nos cabelos a brisa que as encerrou.
Recordam ainda, passeando entre outras, o dia em que se fecharam.
Devagar, sem alarde, sem um bac que alertasse alguem...
Lentamente foram esquecidas as portas fechdas, que já ninguem abre.
Só um soluço na noite que esmaga e doi: Quem me abre?